A anestesia da consciência

Dilemas éticos, legais e culturais da prática da tatuagem.

Tatuadores e Tatuadoras do meu Brasil, bem-vindos ao POV by HAMMERWORKS 🔥

Pra quem tatua pra viver, não só pra postar: seu manifesto semanal do que não te ensinam em workshop.

Essa semana a Anvisa proibiu o uso de anestesia geral e sedação para procedimentos estéticos, incluindo tatuagem. RESOLUÇÃO CFM Nº 2.436

Em meu ponto de vista, não se trata apenas de uma questão de saúde pública ou legislação. É um alerta simbólico sobre o que estamos fazendo com uma prática ancestral.

Essa edição não é contra quem executa essa prática.
É sobre entender o que se perde quando a gente começa a anestesiar tudo, inclusive o que nos forma.

Vamos partir do começo: tatuagem sempre foi mais do que um desenho na pele.

Ela já significou passagem, desafio, maturidade, pertencimento, sobrevivência. Nas culturas tribais, era um divisor de águas:

  • infância x vida adulta

  • guerreiro x civil

  • aceito x excluído

A dor era o limiar,
a prova,
a parte que dizia: “Eu atravessei.”

E hoje?


Tem gente que deita no “bloco cirúrgico”, apaga e acorda tatuado,
sem lembrar e nem sentir nada.

Estamos na era do retrato de uma cultura que tenta anestesiar tudo: a dor, o tempo, a presença, o significado.

As pessoas estão cada vez mais tentando pular processos e etapas e isso tem um preço a pagar.

A Cultura do "express"


Hoje vivemos num momento estranho. Tudo precisa ser fácil, rápido e absolutamente confortável.

Evitamos desconfortos como se fossem inimigos a serem eliminados a todo custo, esquecendo que, muitas vezes, é no desconforto que mora o sentido mais profundo das coisas.

Mas talvez a gente tenha confundido dor com sofrimento.

Porque não é da dor física que estamos falando,
é da dimensão simbólica disso tudo.

Mas tudo evolui, inclusive a tattoo


Sim, a gente não vive mais numa tribo isolada.
E nem todo mundo quer um ritual.

Não dá pra voltar no tempo,
mas dá pra escolher o que queremos preservar.

Para muita gente, tatuagem é só estética. E está tudo bem.

A pergunta é: o que se perde quando só sobra a estética?

Mas e quem tem fobia, ansiedade, neurodivergência?


Tem gente que precisa, com certeza, de acolhimento especial e alternativas.
Não se trata de obrigar ninguém a sentir dor; para isso existem pomadas anestésicas e sessões de tattoo.

Mas há uma diferença enorme entre essas experiências,
um abismo entre aliviar a dor e desligar totalmente a consciência.

O problema surge quando o mercado passa a vender sedação como “solução”.

Estamos apagando o significado, a presença e o diálogo interno que a tatuagem sempre propôs.

Mas a tattoo é minha, eu faço o que quiser com ela


Justo.
Mas e o tatuador?

Quem segura a máquina vai responder legalmente caso algo dê errado,
vai carregar nas costas o peso da omissão médica,
vai, sem querer, participar da desvalorização simbólica da própria profissão.

É aqui que está o ponto:
quando o tatuador cede à lógica do mercado a qualquer custo, ele também se anestesia.

Do próprio papel,
do próprio limite,
do próprio poder.

A tattoo está em uma travessia

Se perdermos o valor do ritual, da presença e da consciência, corremos o risco real de anestesiar não apenas a dor física, mas também o significado profundo e essencial da experiência humana.

Sem isso, o que sobra pra tatuagem?

Fica a reflexão!


Vamos lembrar, todos os dias, por que começamos e o valor real do que fazemos.

A tatuagem merece consciência e respeito.

Com amor,

Peter Klegues

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Nos vemos na próxima semana 😎
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