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A visão de Filip Leu
Mudança, permanência e a força criativa de um dos maiores nomes da tatuagem mundial.

Tatuadores e Tatuadoras do meu Brasil, bem-vindos ao POV by HAMMERWORKS 🔥
Pra quem tatua pra viver, não só pra postar: seu manifesto semanal do que não te ensinam em workshop.
Nesta edição trazemos nosso ponto de vista sobre essa entrevista que Filip Leu concedeu a Aaron Della Vedova. Na conversa, o lendário tatuador compartilha sua jornada artística, reflete sobre a longevidade da tatuagem, critica a homogeneização causada pelas redes sociais e revela como vê a tatuagem não apenas como arte, mas como um meio de marcar mudanças, afirmar identidade e cultivar presença.
Filip Leu e a Arte que Resiste
Hoje nosso ponto de vista se ancora na jornada de Filip Leu, um dos nomes mais lendários da tatuagem mundial, conhecido por sua dedicação à mitologia dos dragões e autor do livro “Dragon Claws”, com mais de 2.000 garras ilustradas, ele transformou símbolos ancestrais em referência artística contemporânea. Sua obra, marcada por precisão e criatividade sem limites, continua inspirando tatuadores no mundo todo.. Seu legado vai além da técnica: ao popularizar os grandes formatos e bodysuits, mostrou que o corpo inteiro pode ser tela e que a tatuagem não precisa ser mero ornamento, mas sim linguagem de transformação. Aos 43 anos de carreira, mesmo após dores físicas, artrite e pausas forçadas, ele continua ativo, sustentado pela força da família e pela disciplina de quem encara a arte como destino.

Na prática, Leu é guiado por uma filosofia clara: “Bold Will Hold”. Linhas fortes e pretos sólidos garantem que a tatuagem sobreviva ao tempo, enquanto o espaço negativo — a própria pele — se torna a cor mais brilhante da paleta. Em contrapartida, ele rejeita a obsessão contemporânea pelo realismo hipercolorido, lembrando que cores desbotam em ritmos diferentes e que a pele é um “papel mata-borrão”. Seu minimalismo cromático, limitado a nove ou doze cores, é também um ato de resistência. Para ele, o aprendizado verdadeiro exige tempo: só após seis anos é possível avaliar se uma tatuagem realmente se sustenta na pele.

No cenário digital, Leu reconhece a força das redes sociais, mas alerta para o preço: a homogeneização. O Instagram amplificou o realismo porque o público leigo curte o que reconhece, silenciando vozes autorais. Isso pressiona iniciantes a pular etapas e buscar perfeição imediata. Ainda assim, ele celebra novas estéticas: a tatuagem puramente decorativa, sem necessidade de significado, como o mármore abstrato que testemunhou, prova que a arte também pode ser liberdade. E, nos extremos, vê as modificações corporais radicais e o “ignorance style” como formas de rebelião contra a normatização estética.

A motivação por trás da tatuagem, para ele, é marcar mudança. Tornar permanente uma transição, um rito pessoal ou um gesto de identidade. Nem toda tatuagem é feita para ser exibida; muitas são íntimas, visíveis apenas ao próprio corpo. Nesse sentido, a tatuagem é tanto afirmação pública quanto segredo privado.

A vida de tatuador, porém, cobra caro. Lesões físicas, estresse performático e sessões que drenam energia revelam o peso da profissão. O medo de arruinar a vida de alguém com um trabalho malfeito é constante. Ainda assim, o ato de tatuar é para Leu também meditação: um refúgio que o ajuda a atravessar crises, um espaço onde mente e corpo entram em estado de foco absoluto. A presença crescente das mulheres na indústria trouxe novas estéticas e sensibilidades, transformando ainda mais o cenário.
Leu também olha para as ferramentas. Inovou ao criar tubos para agulhas maiores, revolucionando grandes trabalhos, e incorporou o iPad para desenhar de forma mais ágil e ajustável. Sonha com máquinas futuristas de levitação magnética, sinalizando que a tatuagem deve se renovar tanto quanto a tecnologia que a acompanha.

Mas talvez o ponto mais profundo de sua visão esteja em suas reflexões sobre vida e morte. Desde criança, ao presenciar cremações em Varanasi, entendeu a impermanência da existência: somos “sacos de carne”, destinados ao fim. Essa consciência, longe de ser mórbida, o guia a viver intensamente o presente, a não se apegar a problemas triviais e a encarar a tatuagem como ato de meditação e presença. Ele vive cético em relação a crenças intangíveis, concentrando-se no aqui e agora, o único tempo real. Até experiências com DMT reforçaram essa visão: o medo gera caos, o relaxamento gera ordem.

Em essência, Filip Leu nos ensina que tatuar é muito mais do que desenhar na pele. É marcar mudanças, expressar identidades, aceitar a impermanência e criar com a consciência de que o tempo é o verdadeiro juiz da arte. Sua filosofia ecoa além da tatuagem: é uma lição para qualquer criador em qualquer campo.
Papo reto: não existe atalho. A pressa só atrasa tua evolução. O que vale é repetição, estudo e respeito pelo tempo.
Peter Klegues
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Nos vemos na próxima semana 😎
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