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A TATTOO te dá o que dinheiro nenhum compra...
Uma carta pra quem ainda lembra por que começou. 😎

Tatuadores e Tatuadoras do meu Brasil, bem-vindos ao POV by HAMMERWORKS 🔥
Pra quem tatua pra viver, não só pra postar: seu manifesto semanal do que não te ensinam em workshop.
Hoje a gente vai fazer diferente. Bora olhar pra trás.
Porque entender de onde viemos é chave pra saber pra onde estamos indo.
Se você acha que o corre tá difícil hoje... imagina quando a divulgação era só boca a boca, quando não existia agendar por DM, nem story, nem nada. Só a sua reputação, sua mão e quem falava de você na rua.
O jogo mudou. A regra? Continua a mesma: quem entrega verdade, sobrevive.
Puxa a cadeira, prepara o café... hoje a história é longa
Semana passada, estava organizando uns desenhos antigos e encontrei uma foto de 2002: eu no meu primeiro estúdio, em Porto Alegre, fazendo um tribal numa cliente de 18 anos que economizou meses pra pagar R$ 80,00 naquela tattoo. Olhei pra foto e pensei: "Cara, como tudo mudou."

Os anos dourados da coragem
Lembro de 2002 como se fosse ontem. Tattoo ainda era coisa de vagabundo. Seu pai olhava torto, as tias ficavam horrorizadas, mercado de trabalho não contratava quem tinha tattoo “aparente”. Mas quem queria, queria mesmo, e não tinha essa de fazer orçamentos pelo WhatsApp em milhões de estúdios. E isso fazia toda a diferença.
Naquela época a gente esperava ansiosamente pelas próximas edições das revistas de tattoo. Máquina era artesanal montada pelo próprio tatuador. A tinta era nacional, batida em liquidificador e funcionava que era uma beleza... O cliente pesquisava meses antes de escolher onde tatuar, o tempo realmente era outro.
Tribal dominava setenta por cento dos pedidos, e a gente fazia com amor genuíno. Flash na parede era lei sagrada. Cliente chegava, olhava os desenhos ali ou nas “pastas/catálogos” e escolhia na hora. A conversa rolava solta durante toda a sessão porque não existia celular pra distrair. Todo mundo se conhecia na cena. Éramos literalmente uma família meio underground.
As convenções eram encontro... O que movia tudo era paixão pura. Ninguém estava ali pelo dinheiro fácil, porque dinheiro fácil simplesmente não existia.
Era sobre pertencer a algo maior, sobre fazer parte de uma resistência silenciosa contra o mundo lá fora.
Quando a tattoo despertou
De repente, a tatuagem começou a ser considerada “profissão de verdade". Foi uma sensação estranha, mas boa. Finalmente podíamos falar "sou tatuador" sem constrangimento.
As primeiras máquinas importadas chegaram com tudo no Brasil. Estúdios saíram das garagens e ganharam CNPJ. Surgem os primeiros "tatuadores artistas", uma categoria que nem existia antes. E então chega o Instagram.
A qualidade técnica deu um salto gigante da noite pro dia. Cliente começou a exigir mais, e estava certo. Os preços subiram, e precisavam mesmo. A competição ficou mais séria, o que elevou o nível geral. Tribal começou a "morrer", mas outros estilos explodiram.
O mercado cresceu trezentos por cento em três anos. Era emocionante ver a tattoo sendo reconhecida, mas também assustador. Porque junto com o reconhecimento veio a primeira divisão dolorosa entre "tatuador raiz" e "tatuador novo". E começou a corrida pelo equipamento mais caro, como se máquina cara fizesse tatuador melhor.
Mesmo assim, ainda dava pra sentir que estávamos crescendo juntos. As mudanças eram empolgantes, não ameaçadoras.
Quando tudo virou conteúdo
2016 chegou e a rede social virou mainstream.
"Tattoo de influencer" virou categoria real de negócio. Chegou a primeira onda de tatuadores famosos, aqueles que todo mundo conhecia pelo Instagram antes de conhecer pessoalmente. Cliente começou a chegar pedindo "igual da Fulana", mostrando print da tela.
O mercado reagiu como uma explosão. Novos profissionais pipocaram em todo canto. Estúdios viraram cenários de foto primeiro, local de trabalho depois. Preço médio subiu quatrocentos por cento em dois anos. Máquina rotativa virou item obrigatório no kit.
Conquistamos visibilidade global da arte brasileira. Uma geração nova de tatuadores incríveis surgiu do nada. As técnicas evoluíram numa velocidade absurda. O mercado começando finalmente a se profissionalizar.
Mas perdemos algumas coisas preciosas no caminho. A intimidade das sessões morreu porque tudo virou conteúdo. Chegou o primeiro impacto dessa febre.
O dilema do tatuador moderno
Como profissional, me vejo num conflito constante. Por um lado, preciso me adaptar ao mercado. Cliente é cliente. Se querem tattoo pra feed, quem sou eu pra julgar?
Por outro lado, carrego a responsabilidade de mais de duas décadas de história. Tattoo sempre foi sobre ritual, sobre significado, sobre marcar a pele com algo que importa de verdade.
Tem dias que me sinto como guardião de algo que está morrendo. Outros dias, acho que estou sendo resistente demais à mudança. Talvez a nova geração esteja certa e tattoo pode ser sim sobre estética, sobre momento, sobre experimentação.
O mundo mudou
Não sou saudosista. Reconheço tudo que ganhamos com a evolução do mercado. Técnica impecável, equipamentos incríveis, reconhecimento social, possibilidades infinitas. Isso é inegável.
E talvez essa seja a real transformação que precisamos entender: O mundo mudou. As relações mudaram. O conceito de permanência mudou.
Pra onde vamos
Não tenho resposta pronta. Mas tenho perguntas:
E se voltássemos a trocar informações? E se criássemos pontes entre as tribos? E se respeitássemos as diferenças em vez de atacá-las? E se entendêssemos que cada geração tem algo a ensinar?
O mercado mudou. Irreversivelmente. Como fazer? Como honrar o passado sem virar dinossauro? Como atender as demandas dessa geração sem perder a essência do passado?
Acredito que a resposta está em encontrar espaço pra ambos. Posso fazer a tattoo trendy da menina do TikTok e ainda assim plantar uma semente de reflexão. Posso respeitar a urgência do momento dela sem abrir mão da minha responsabilidade como guardião de uma arte milenar.
Talvez seja sobre educar sem ser chato. Sobre mostrar possibilidades sem impor significados. Sobre entender que cada geração tem sua forma de se relacionar com permanência.
A escolha é nossa. Individual e coletiva.
💭 REFLEXÃO QUE FICA
Escrevo isso pra dividir uma inquietação que sei que muitos de vocês também sentem. Estamos navegando numa transformação cultural profunda, e nossa profissão está no centro dessa mudança.
A pergunta não é se devemos resistir ou aceitar. A pergunta é: como encontrar equilíbrio? Como preservar o que é essencial enquanto nos adaptamos ao que é inevitável?
Porque no final das contas, tatuamos pessoas. E pessoas sempre precisaram marcar momentos importantes, independente da época. Nossa missão continua a mesma: ajudar pessoas a contar suas histórias na pele.
O desafio é descobrir qual história cada cliente realmente quer contar, mesmo quando ele mesmo ainda não sabe.
E vocês, como estão lidando com essa transformação?
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Nos vemos na próxima semana 😎
POV by HAMMERWORKS — Criado por quem VIVE e RESPIRA o corre real da TATTOO.